terça-feira, 12 de outubro de 2010

Começo a compreender...


Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.- Bom dia! – disse ele.Era um jardim cheio de rosas.- Bom dia! – disseram as rosas.Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.- Quem sois? – perguntou ele espantado.- Somos as rosas – responderam elas.- Ah! – exclamou o principezinho…E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ela era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!“Ela teria se envergonhado”, pensou ele, “se visse isto… Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade…”Depois, refletiu ainda: “Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso…”E, deitado na relva, ele chorou.E foi então que apareceu a raposa:- Bom dia – disse a raposa.- Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.- Eu estou aqui – disse a voz, debaixo da macieira…- Quem és tu? – Perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita…- Sou uma raposa – disse a raposa.- Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou tão triste…- Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.- Ah! Desculpa – disse o principezinho.Mas, após refletir, acrescentou:- Que quer dizer “cativar”?- Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?- Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer “cativar”?- Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?- Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa “criar laços”…- Criar laços?- Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…- Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…

Antoine de Saint-Exupéry

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